No ano em que a cidade de Salvador, primeira capital do Brasil e uma das primeiras das Américas, completa seus 470 anos, o festival Virada Sustentável 2019 saúda e celebra o Centro Antigo, território que liga a cidade alta à cidade baixa, onde se deu início à formação deste grande corpo urbano cosmopolita, ancestral e futurista, sempre em movimentos, que é Salvador.
O Centro Pulsa – A Vida em Movimentos desloca o olhar para uma perspectiva decolonial sobre o corpo-cidade em processos contínuos de criação e significação das suas estruturas materiais e simbólicas, pautadas nos fluxos culturais afro-diaspóricos que, ao longo do tempo, vêm conectando e sendo conectados pelas vidas que se movimentam entre os diversos espaços do Centro Antigo.
O Centro Antigo de Salvador (CAS) é formado por um conjunto de bairros, sendo limitado ao território incorporado de valor histórico e cultural: Centro Histórico, Comércio, Saúde, Nazaré, Santo Antônio Além do Carmo, Tororó, Lapinha, Barbalho, Macaúbas, Liberdade, Centro, Barris.
Pensar o Centro Antigo é reconhecer sua formação a partir de corpos negros que atravessam os tempos criando estratégias libertárias, de reinterpretação e ressignificação dos elementos simbólicos que constituem uma visão de mundo integrada à natureza, sistêmica, que relaciona a vida de modo imbricado com as produções ancestrais de mundo e caminham em direção à sustentabilidade.
Um corpo-território híbrido que conecta múltiplas dimensões da vida entre o material e o imaterial, a existência individual e coletiva, a produção de múltiplas existências que caminham em direção à coletividade no mundo. Um grande desafio experimentado cotidianamente com criatividade, produzindo diferentes interpretações e práticas sobre os modos de ser, de fazer, de se relacionar, de criar, de produzir, de distribuir e de comunicar.
A primeira cidade do Brasil começa aqui. Os projetos arquitetônicos seculares são fruto de tecnologias ancestrais, uma engenharia que atravessa o atlântico e se reinventa neste corpo-território em movimentos. Atualmente, algumas construções se encontram em estado de ruínas, outras foram requalificadas e coexistem entre obras contemporâneas e belas paisagens naturais, sendo o Pelourinho considerado Patrimônio Cultural da Humanidade, tombado pela UNESCO, em 1985. Ao mesmo tempo, as populações mais vulneráveis socialmente que vivem neste grande quilombo urbano sofrem com a pressão promovida pela especulação imobiliária e a falta de acesso a direitos sociais garantidos pelo poder público. Este contexto deflagra a tentativa de apagamento destas vidas que se aquilombam para continuar existindo, criando estratégias de organização social e práticas colaborativas em rede, se reinventando e produzindo arte, comunicação, linguagens e tecnologias sociais.
É, portanto, neste corpo-território que percebemos contextos com atmosferas de rompimento com as normas sociais postas: patriarcais, materialistas, racistas, binárias, excludentes e insustentáveis. Ecossistemas que possibilitam outros modos de ser, pautados pelos conflitos e pela criatividade na reinvenção de si e do mundo. Práticas que atravessam a ancestralidade, a necessidade de ser livre, de produzir tecnologias e afirmar suas subjetividades, de habitar o planeta em comunidade e equilíbrio com todo o ecossistema, de criar a própria vida. Práticas cotidianas que partem dos desejos, necessidades e sonhos de pessoas que habitam e são habitados pelos fluxos histórico-culturais próprios do Centro Antigo.
Pensando a sustentabilidade em perspectiva multidimensional da sociedade (dimensão cultural, dimensão tecno-natural, dimensão sociopolítica e dimensão financeiro-solidária) percebemos no Centro Antigo potências de fluxos de riquezas intangíveis: produção de conhecimento, fluxos culturais, linguagens artísticas, espiritualidade, produção de identidades sociais, relações sociais e institucionais em rede, formação de organizações e instituições sociais, públicas e privadas, entre outros; e tangíveis: estruturas arquitetônicas e naturais, relevante movimentação financeira em torno do comércio e do turismo.
A ancestralidade e a criatividade inatas à cosmovisão de matriz africana são reinventadas em solo brasileiro com maior potência no Centro Antigo de Salvador pelo próprio processo histórico-social de formação do mesmo. Podem ser percebidas no cotidiano de quem o atravessa, projetando o corpo ao encontro da experimentação e produção diária de modos de ser e viver.
Fruto de processos crítico-criativos de interpretação e produção da vida, o Centro Antigo pulsa em movimentos junto com os corpos que o fazem pulsar. Criando, cotidianamente, o futuro nas presenças do agora!
Tendo como diretrizes os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS propostos pela Organização das Nações Unidas – ONU como um desafio para os estados-nação até o ano de 2030, a Virada Sustentável provoca xs artistas, produtorxs culturais, articuladorxs sociais, empreendedorxs socricriativos, mestres e mestras do saber, pesquisadorxs e educadorxs de Salvador e da Bahia, em especial do Centro Antigo, a projetar O Centro Pulsa – A Vida em Movimentos, conosco, submetendo em nossas chamadas abertas projetos artístico-culturais, de formação e mobilização social que reflitam sobre os seguintes pontos:
Estas interpelações são um convite à reflexão aos diferentes agentes socioculturais da cidade e Estado para que submetam projetos que transversalizem os principais ODS´s que subsidiam esta edição do festival. São eles:
O Centro Pulsa – A Vida em Movimento na Virada Sustentável Salvador 2019 convida a sociedade soteropolitana e baiana a pensar as potências do Centro Antigo em direção às periferias da cidade. Deste modo, abrimos possibilidade de realização de projetos em outros territórios/bairros desde que os mesmos estejam de acordo com a proposta conceitual apresentada. Este é um convite a pensarmos, criarmos e produzirmos, juntxs, uma série de iniciativas/projetos propositivos e inspiradores para a nossa Salvador.
Critérios de seleção dos projetos:
Virada Sustentável Salvador 2019 resguarda autonomia na seleção dos projetos à equipe curatorial do festival. A avaliação e seleção dos mesmos perpassarão os seguintes pontos:
· Viabilidade financeiro-orçamentária para realização da proposta.